Romanica Olomucensia 2021, 33(2):225-240 | DOI: 10.5507/ro.2021.016
Dyonélio Machado: Literatura Pampeana para além de suas fronteiras
- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brazil
O presente artigo apresenta uma análise do conjunto de figurações de personagens vindas da fronteira na obra de Dyonélio Machado, relacionados com aspectos de sua ensaística. Político marxista perseguido pelo autoritarismo brasileiro em diversos momentos, produtor de uma escritura que foi progressivamente rejeitada pelas editoras de seu tempo, será em consideração à ambivalência de suas representações da fronteira, que poderemos encontrar um novo viés de interpretação para sua literatura. Seguindo a epistemologia da fronteira de Walter Mignolo, que propõe um saber liminar que busca considerar ambos os lados da fronteira sem se fixar em nenhum deles, podemos reconhecer a proximidade de Dyonélio Machado com uma forma particular de poesia social proveniente do pampa, semelhante aos exemplos da gauchesca política analisados por Ángel Rama. Seja pelo contato com a cultura uruguaia em sua cidade natal, onde também testemunhou guerras civis e manifestações de caudilhismo em diversas formas, seja pela ambivalência que encontramos em diversas personagens originárias das «fronteiras orientais», podemos reconhecer um saber fronteiriço inscrito em sua literatura. No entre-lugar entre criminosos e heróis militares, as representações de Dyonélio Machado levam em consideração os rejeitados e anônimos da história política oficial, assim como questionam a violência dos grandes projetos de modernização, na visão de suas ruínas esquecidas nos limites geográficos da nação. Palavra-chave: Dyonélio Machado; comarca do pampa; pensamento liminar; epistemologia da fronteira; gauchipolítica.
Palavras-chaves: Dyonélio Machado; comarca do pampa; pensamento liminar; epistemologia da fronteira; gauchipolítica
Dyonélio Machado: Pampean literature beyond its borders
The current paper presents an analysis of the set of figurations of characters coming from the border in Dyonélio Machado's work, related to aspects of his essayistics. A Marxist politician persecuted by Brazilian authoritarianism at several points, producer of a writing that was progressively rejected by the publishers of his time, it will be in consideration of the ambivalence of his representations of the border that we can find a new bias of interpretation for his literature. Following Walter Mignolo's epistemology of the border, which proposes a liminal knowledge that seeks to consider both sides of the border without fixating on either, Dyonélio Machado's proximity to a particular form of social poetry coming from the pampas can be recognised, similar to the examples of political gauchesca analysed by Ángel Rama. Whether through contact with Uruguayan culture in his hometown, where he also witnessed civil wars and manifestations of caudillismo in various forms, or through the ambivalence found in various characters from the "eastern frontiers", a border knowledge can be recognised inscribed in his literature. In the in-between place between criminals and military heroes, Dyonélio Machado's representations take into consideration the rejected and anonymous figures of official political history, as well as they question the violence of the great modernisation projects, in the vision of their forgotten ruins at the geographical limits of the nation.
Keywords: Dyonelio Machado; pampa district; liminal thinking; border epistemology; gauchipolitics
Received: October 28, 2021; Revised: November 11, 2021; Accepted: December 21, 2021; Published: December 31, 2021 Show citation
References
- Albé, Maria Helena (1983), Uma leitura de Os ratos de Dyonelio Machado. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
- Caggiani, Ivo (1997), João Francisco: a hiena do Cati, Porto Alegre: Martins Editor.
- D'Ávila, Ney Eduardo Possapp (2012), Degola e Degoladores no Rio Grande do Sul 1889-1930, Porto Alegre: Edigal.
- Gutfreind, Ieda (1998), A historiografia Rio-grandense, Porto Alegre: Editora da Universidade.
- Hernández, José (2001), Martin Fierro, Madrid: Scipione.
- Lucena, Karina de Castilhos (2010), «Dyonelio Machado e Juan Carlos Onetti: aproximações na comarca do Pampa», Cadernos do IL 41, 95-112.
- Machado, Dyonélio (1933), Uma definição biológica do crime, Porto Alegre: Globo.
- Machado, Dyonélio (1976), Deuses econômicos, Porto Alegre: Garatuja.
- Machado, Dyonélio (1980), Endiabrados, São Paulo; Ática.
- Machado Dyonélio (1995), O cheiro de coisa viva, org. de Maria Zenilda Grawunder, Rio de Janeiro: Graphia Editorial.
- Machado, Dyonélio (2003), O Louco do Cati, São Paulo: Planeta do Brasil.
- Machado, Dyonélio (2004), Os Ratos, São Paulo: Planeta do Brasil.
- Machado, Dyonélio (2006), O pensamento político de Dyonélio Machado, Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
- Machado, Dyonélio (2017), Um pobre homem, Brasília: Siglaviva.
- Mignolo, Walter (2003), Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar, Belo Horizonte: Editora UFMG.
- Rama, Ángel (1976), Los gauchipoliticos rioplatenses, Buenos Aires: Calicanto.
- Rama, Ángel (1998), La ciudad letrada, Montevideo: Arca.
- Sarmiento, Domingo Faustino (2018), Facundo o Civilización y barbarie, Buenos Aires: Biblioteca del Congreso de la Nación.
- Till, [Enedy] Rodrigues (1995), Dyonelio Machado: o homem, a obra, Porto Alegre: E.R.T.