Romanica Olomucensia 2021, 33(2):315-327 | DOI: 10.5507/ro.2021.022
Poder, estratificação social e subalternização em dois contos de João Melo
- Universidade Federal Fluminense, Brazil
Neste artigo, discutiremos, a partir da análise espacial como o projeto literário de João Melo é estruturado. Os contos, «Efeito Estufa» e «O Cortejo», trazem um tipo de narrador que exemplifica esse modo de ver a cidade, que tece informações a respeito dos personagens e dos espaços, colocando-se como um indivíduo que compreende as especificidades do que é narrado. Esse narrador tem como foco mostrar a estratificação social e a subalternização como construtoras da sociedade. A discussão proposta pela pesquisa tem como base compreender como as representações espaciais refletem violência, desilusão e resistência. Nesse caminho, veremos que tais construções espaciais descortinam uma visão da Luanda contemporânea, pois trazem um olhar singular para questões que atravessam a sociedade urbana real e, assim, nos apresentam a construção de um discurso crítico que é traçado por meio da literatura. Para tal, teremos como base teóricos como Ki-Zerbo, Foucault e Linda Hutcheon. Com a análise dos contos, observamos que o poder move as relações entre os sujeitos e os espaços, que ao longo dos textos são apresentados à uma outra cidade. A violência e a desilusão se manifestam nas formas com que os personagens vivem essa cidade e no desconhecimento que têm do lugar em que vivem. Concluímos, então, com esse estudo, que a partir da apresentação de situações limítrofes e das formas de representação dos problemas e da vida da sociedade em esferas diversas há uma ampliação da temática nacional. Dessa forma, para representar seu país, João Melo se vale dos elementos já citados, pois esses representam o país que pode ser construído a partir da Independência.
Palavras-chaves: violência; subalternização; estratificação social; poder
Power, social stratification, and subalternization in two short stories by João Melo
In this paper, how João Melo's literary project is structured will be discussed from the point of view of a spatial analysis. The short stories "Efeito Estufa" and "O cortejo" bring a type of narrator who exemplifies this way of seeing the city, who weaves information about the characters and the spaces, placing himself as an individual who understands the specificities of what is narrated. This narrator focuses on showing social stratification and subalternization as constructors of society. The discussion proposed by the research is based on understanding how spatial representations reflect violence, disillusionment, and resistance. In this path, it will be observed that such spatial constructions unveil a vision of contemporary Luanda, because they bring a singular view of issues that cross real urban society and, thus, present us with the construction of a critical discourse that is traced through literature. To this end, the study will be based on theoreticians such as Ki-Zerbo, Foucault, and Linda Hutcheon. Through the analysis of the short stories, it will be demonstrated that power moves the relations between subjects and spaces, which, throughout the texts, are presented to another city. Violence and disillusionment manifest themselves in the ways in which the characters live in this city and in the ignorance they have of the place where they live. The conclusion of this study is that from the presentation of borderline situations and the ways of representing the problems and life of society in different spheres there is an expansion of the national theme. In this way, to represent his country João Melo makes use of the elements already mentioned, since these represent the country that can be built after Independence.
Keywords: violence; subalternization; social stratification; power
Received: February 1, 2021; Revised: July 23, 2021; Accepted: October 25, 2021; Published: December 31, 2021 Show citation
References
- Bachelar, Gaston (1989) [1957], A poética do espaço, São Paulo: Martins Fontes.
- Barthes, Roland (1984) [1968], «O efeito de real», em Barthes, R., Literatura e realidade, Lisboa: Publicações Dom Quixote.
- Behr, Nicolas (2007), Laranja seleta, Rio de Janeiro: Língua Geral.
- Bordini, Maria da Glória (2007), «Crises pós-modernas e o fim das utopias: o lugar da literatura», em Helena, L. (org.), Literatura, intelectuais e a crise da cultura, Rio de Janeiro: Contra Capa, 51-63.
- Collot, Michel (2010), «Do horizonte da paisagem ao horizonte dos poetas», tradução de Eva Nunes Chatel, em Alves, I. F. - Feitosa, M. M. M. (org.), Literatura e paisagem: perspectivas e diálogos, Niterói: EdUFF, 4-12.
- Collot, Michel (2012), «Pontos de vista sobre a percepção de paisagens», tradução de Denise Grimm, em Negreiros, C. - Lemos, M. - Alves, I. (org.), Literatura e paisagem em Diálogo, Rio de Janeiro: Ed. Makunaima, 21-32.
- Collot, Michel (2012), «Rumo a uma geografia literária», tradução de Ida Alves, Gragoatá 33, 2.° Semestre, 17-31.
Go to original source...
- Costa, Francisco das Chagas Souza (2019), «Entre recalques e hibridismos: marcas pós-coloniais no conto "O efeito estufa", de João Melo», Revista Tabuleiro de Letras 13, n.° 1, junho, 95-110.
Go to original source...
- Dias, Mariana Souza (2019), Transposições metafóricas na escrita metaficcional de Pepetela: um estudo de A Sul. O Sombreiro, A Gloriosa Família e Predadores, tese de doutorado em literatura comparada, Niterói: Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense.
- Foucault, Michel (1999) [1976], História da Sexualidade, vol. 1: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque, 13.a ed., Rio de Janeiro: Graal.
- Hall, Stuart (2000), «Quem precisa da identidade?», em Silva, T. T. (org., trad.), Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, Petrópolis: Vozes, 103-133.
- Hutcheon, Linda (1991) [1987], Poética do pós-modernismo, tradução de Ricardo Cruz, Rio de Janeiro: Imago.
- Ki-Zerbo, Joseph (2006), «Para quando a África?», entrevista com René Holenstein, tradução de Carlos Aboim de Brito, Rio de Janeiro: Pallas.
- Melo, João (2001), Filhos da Pátria, Luanda: Editorial Nizila.
- Pereira, Edmilson de Almeida (2003), Lugares Ares - obra poética 2, Belo Horizonte: Mazza.
- Ramose, Magobe B. (2009), «Globalização e Ubuntu», em Santos, B. S. - Meneses, M. P. (org.), Epistemologias do Sul, Coimbra: Almedina.
- Spivak, Gayatri Chakravorty (2010), Pode o subalterno falar?, tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira, Belo Horizonte: Editora da UFMG.